quarta-feira, setembro 19, 2007

Escrevi-te do lado errado da saudade.

Mas acho que me esqueci do lado certo da saudade.
Acho que me esqueci de mim enquanto te escrevia. Mas lembrei-me de nós.
E voltámos a viver os dois em linhas e frases, em letras e palavras. Em parágrafos desenhados por mim. Em folhas preenchidas por nós.
Escrevi-te em mim e perdi-me em ti.
Voltámos a viver em campos, voltámos a sorrir, voltámos a ser um só. Os nossos corações voltaram a bater como um só, a nossa voz voltou a ser uma só, os nossos dedos voltaram a unir-se.
Desde o dia em que partiste que vivo junto da saudade. Devia viver contigo, junto a ti, a ti. Mas é com a saudade que vivo.
Não há sonho, não há palavra, nem sopro, nem brisa que te traga de volta.
Gosto de pensar que és o vento que me envolve os ombros em noites de estrelas, vento que me envolve, é o que penso. Mas o vento não me fala nem me diz coisas bonitas. Tu dizias coisas bonitas.
Lembro-me do dia em que partiste. Escolhi apagar o dia 28 daquele mês que agora só tem 30 dias e que do dia 27 passa para o dia 29. Escolhi retirar esse dia para te escrever, para te ver no meu sonho, para te ver. Mas tu já não és. Lembro-me que olhavas para o relógio parado, cujas badaladas o pêndulo desistiu de fazer soar. Aquele balouçar que te fazia adormecer, um movimento hipnótico que te levava para longe. Longe de ti, dos teus sonhos, longe, num horizonte distante que nem tu sabes onde fica. Esse pêndulo que parou no tempo, que parou o tempo, que parou para nunca mais bater. E o tempo parou com o pêndulo, mas tu não paraste, foi o tempo que parou. Não mais respirar, não mais ver, não mais. Olhaste para mim e disseste "vou partir". Eu não percebi porquê, dizias que me amavas e eu amava-te também. "vou partir". Olhei para ti, tinha as minhas mãos pousadas sobre a saia azul que tinhamos escolhido os dois, quando saímos os dois para comprar algo para mim porque querias dar-me algo e tinhas dito que eu ficava bonita com a saia. Olhei para ti e não percebi o porquê. "vou partir". Sei que os meus lábios se crisparam por momentos e continuei a olhar para ti, e sei que os meus lábios se soltaram um do outro para sussurrar uma palavra que nem eu sei se tu percebeste de tão baixo que sussurrei.. "porquê?". Tu não respondeste, não respondeste e eu não percebi. Não respondeste, levantaste-te, pousaste os teus lábios na minha testa e eu senti uma gota de água, que mais não era do que uma lágrima que não percebia se era tua, minha ou dos dois. Levantaste-te e caminhaste, saiste e partiste de vez.
A partir desse dia, escrevi-te em palavras e viveste em palavras.

Escrevi-te do lado errado da saudade. Da saudade que tenho de ti.

7 comentários:

Pedro Almeida disse...

Que saudades de escrever assim.

Uma das coisas mais bonitas que ja li

*

sónia disse...

Apesar de tudo, da perda, do sofrimento, desse lado errado é bom sentir saudade. Porque é sentir. E sentir é viver.

Gosto muito do teu texto. É bom reencontrar as tuas palavras :*
Sónia

Anónimo disse...

Deves ler isto que escreveu uma amiga que tb esteve em Portugal a estudar.
Um analise da saudade. :)

"Saudades!!!!
Palavra composta de quatro vogais e quatro consoantes, que quer dizer tudo e não diz nada.

Na saudade está o silêncio... será que se escreve saudades com S de silêncio?

Quem inventou está palavra?
Será que sabia quantos sentimentos existia neste conjunto de letras?

Por que não vontade louca de saber de ter de ver?
Por que não medo, insegurança, incerteza?
Por que não desejo de voltar....?

Será que o A de saudades é o A de Até breve?

Será que saudade é para rimar com felicidade?
Não!!!, Saudade rima com dor..., se rimar com felicidade seria a de reencontrar, mas aí já não é saudade, aí vira realidade...

E o U da saudade?
Será de ultimamente?
Será de únicamente?
Ou será um U de um urro de dor?

Saudades!!!!!!!
Palavra pequena para transmitir tantos sentimentos.
Não descreve nosso amanhecer sem você.
Não descreve as horas das refeições, nem daquele gostoso papos de fim de noite.
Não descreve tua cama vazia, nem meus sonhos em conflitos.

E o D da saudade?
Será de quanto em quanto tempo?
Será que por isto ele se repete?
Ou será o D do Dedo de Deus?

Mas que palavra é essa, que não descreve nada!!!!!
Não fala em afago, em carinho, em você
Não reflete teu rosto, nem teu sorriso bonito, com tuas covinhas na face que o fazia mais doce, mais perfeito.

E o E da saudades?
Será de estar junto?
Será de esperança?
Ou será de eu te amo?

Saudades, palavra tão pequena... mas poderia ter um acróstico, que cada vogal ou consoante teriam infinitas explicações, descreveria infinitos sentimentos, que molhariam lenços e fronhas....

Saudades!!!!!
Será de novo o S do silêncio?
Ou o S de sofrer?
Ou o S de Será?

Será que a palavra saudades, esta relacionada com sonhar?
Será que significa voltar?
Ou saudades é um eterno esperar........"




Adorei o teu texto, se não te importares vou coloca-lo no meu space do msn, mas vai aparecer o teu link sem duvida, quero q a gente minha o leja, é uma das coisas mais bonitas que já li. Porque por cima, sinto-me reflexada nele. Reflexada demais, infelizmente.
**

Fernando Ferreira disse...

Nada que eu possa dizer faz justiça à beleza do que escreveste.

Unknown disse...

Meu deus, como esse texto dói de tão lindo.

drama5ive disse...

gostei, continua assim :) n sei se terás vontade de ler os meus, porque sao grandes...

A Esquecida disse...

Adorei o texto parabens:)
Esta fantastico, com sentimento:)