sexta-feira, agosto 05, 2011

A linha entre a vida e a morte é tão fina.
Se, quando vivos, não conseguimos olhar a outra pessoa nos olhos (há o medo, não há confiança), quando mortos, todos param para olhar para os nossos olhos mortos, cobertos. Olhos mortos cobertos por lençóis finos, brancos, olhos mortos cobertos por terra, pó e cinzas.
E, de repente, de estar sozinho no meio de multidões com medo de nos olhar nos olhos, passamos a estar sozinhos no meio da sala, com pessoas a olharem-nos nos olhos e o nosso olhar vazio a ver tudo.

quinta-feira, março 04, 2010

e é como se o sino daquela igreja desse corda às horas do mundo.

quarta-feira, março 03, 2010

como se mata o amor, meu amor?

terça-feira, março 02, 2010

hoje somos um.
não aquele um profundo, que mundo e fundo diz ser quando encontra alguém.
somos um, longe de mim e de ti.

hoje, a minha mão toca o ar, no lugar daquilo que era teu.

segunda-feira, março 01, 2010

ontem eramos dois.
caminhavamos por estradas e ruas, sem pensar em quem nem como nem onde nem porquê. eramos dois, e isso era o que importava.

domingo, fevereiro 07, 2010

ontem fechei os olhos.

saímos os dois, mão dada, passo a passo. caminhámos ruas descobertas, debaixo de estrelas, estrelas que contam histórias de animais que são pequenos demais para caberem em nelas.
disseste que tinha o sol em meu olhar. disseste que a lua e o sol se encontravam no meu olhar. e eu baixei os olhos e sorri. sempre tiveste esse dom, de me deixar envergonhada e feliz. sempre me deste luas e sóis, sempre tiveste estrelas acima de ti, sempre. e a tua voz, a tua voz que me sussurrava aos ouvidos...caminhámos de mãos dadas, as ruas descobertas de lisboa.
parámos naquela praça, junto à fonte, aquela, lembras-te? onde casais e velhos passam, onde os embriagados recitam os seus poemas que só fazem sentido a quem os vive, onde as crianças correm atrás dos pombos que correm sem perceber o porquê, como um jogo de loucos onde todos perdem, ninguém ganha, todos (se) perdem.
parámos nessa praça, junto à fonte e olhei para ti; os meus lábios desenhavam um sorriso, como quem antecipa um beijo. a água que fugia da fonte cobria-nos o olhar, como chuva saindo de um jarro de pedra, jorrada por um qualquer alguém que se quer anónimo, que todos vêem e todos esquecem. parámos junto à fonte e o cheiro do teu perfume envolveu-me. e o teu calor envolveu-me, os teus braços, tu.
tu disseste que era para sempre. porquê?

ontem abri os olhos.
foi bom regressar a casa. quão amarga a incerteza de não saber se vou voltar.
tornei-me inverno.

sábado, outubro 10, 2009

sabes, amor,
as folhas que caem das árvores,
como se lágrimas fotossintéticas fossem,
são folhas que beijam peles,
nuvens e sol.
são beijos teus,
que tão meus são,
beijos.
sabes, amor,
sabes-me a primavera,
onde tudo é novo e renovo,
onde beijos de folhas são
pedaços de vida que nasce.
folhas de árvore que voltam do chão