quinta-feira, setembro 21, 2006

Voltaste para me acompanhar... Queres fazer de mim o teu fantoche pessoal. Já não basta a tua voz a arrepiar-me a pele, a mexer com os meus sentidos... Não. Agora sinto a tua presença, o teu olhar, o teu hálito putrefacto, como se estivesses enterrado durante anos.
Sorris porque sabes que, mais tarde ou mais cedo, vais vencer-me. E nem precisas fazer um grande esforço. Basta continuares a seguir-me e enfraquecer-me aos poucos com o desespero que me provocas. As forças que tenho, que ganhei até aqui, não são suficientes para esta guerra.
Assaltas o meu espírito, infiltras-te no ar que sugo, caminhas nas minhas veias. Unes-te a mim aos poucos.
Ao olhar para ti, vejo aquilo em que me irei tornar. Alguém que não teme nada, que não ama nada, que não sente. Vou perder-me e ninguém tem o mapa. Foi o que aconteceu contigo. Perdi-te e não soube salvar-te a tempo. Agora tornaste-te na minha sombra, que apenas surge quando mais fraca me encontro.
Estranho.... O medo maior que tenho é o medo de mim própria.
Sinto-me como se olhasse para um espelho. As pálpebras quase cerradas, os olhos sem vida, que só mexem para observar os gestos do seu fantoche. Pele sem brilho, sem cor. Um farrapo de vida que só existe porque a sua outra metade existe também.
Quero fugir de ti, mas não consigo. Persegues-me lentamente...
O teu objectivo sou eu.

Cada vez que tento escapar, é uma chaga que me aparece. Chagas que marcam a minha pele, marcam o meu corpo, ardem como fogo. E a cada dia que passa, as chagas vão aumentando, consumindo cada centímetro de mim.
E tu limitas-te a olhar, com o prazer e a satisfação de quem vê o seu filme preferido.
És o meu outro eu, a minha outra metade, essa que todos procuram nos outros e não em si próprios. Mas ela está lá. Está sempre lá....
A diferença é que os outros têm a sorte de não saber. E quem não sabe é como quem não vê.

4 comentários:

Anónimo disse...

Será porque, como dizem, somos animais de hábito que não nos conseguimos libertar da nossa outra metade? Ela persiste e insiste em ficar sob pena de nos magoar, porque não temos a força suficiente para a matar. Libertarmo-nos da nossa metade é significado de perda. Ficar com ela é significado de dor. Venha o Diabo e escolha por nós ou nos dê a garra para sermos insensíveis e fortes. Quero-te forte! Não te deixes levar pela sombra dessa metade. Outras surgirão, mas há sempre a esperança de serem menos mortíferas.
Os que não sabem têm sorte, sem dúvida! Quem me dera também ser como eles!
Bjs
Sónia

Paulo disse...

Gostei..., pronto!!!!!!

Frederico Lopes disse...

a sónia já disse tudo.
bjitos

Marina disse...

Tu estás a amadurecer e os teus textos amadurecem contigo. Eis algo que todos deveriam ter consciência mas que preferem não saber, não ver, não escutar, não sentir.É sempre preferível viver as suas vidas de plástico com filosofias de vidas copiadas das páginas de revista.
Para não variar...concordo com o que a Sónia disse...
Um abraço muito apertado para ti menina...