terça-feira, abril 17, 2007

Palavras.
Palavras. Vómitos de palavras que te queimam por dentro. Que te queimam os pés por querem levantar-te, que te queimam as mãos por quererem ser escritas, que te queimam a garganta por quererem ser gritadas, que te queimam. Palavras que querem sair, que estão tão presas, presas há tempo de mais, mas que tu sabes que não vão sair, tu sabes.
Porque voltaste a ti.
Hoje voltaste ao teu tu antigo, frágil, que só encontra saída para a dor que não tens através das lágrimas que queres chorar e que simplesmente não saem. Não saem.
Sentes o teu coração, deitada sentes o teu coração bombear palavras que correm as tuas veias, sentes o teu coração bombear o sangue que passa pelas tuas veias, que te deixa viver. O teu sangue, que de tanto teu, perde-se em ti.
E o frio. O frio que parte da ponta dos teus dedos e entra em cada poro da tua pele. Que é tão frio que queima, queima e arrepia e que te faz sentir que não há tecido que te proteja, não há, nas tuas próprias mãos, algo que te proteja.
Voltaste a ti, tão frágil como antes.
Deitada pensas em palavras e falas palavras que te descrevem a ti própria aquilo que sentes. Palavras que falas, palavras que dizes e repetes e nas quais acreditas porque sabes que são a verdade. Palavras que já te passaram nas veias, que subiram desde o mais fundo de ti e que agora estão no mais alto de ti. Palavras que se misturam com as poucas lágrimas que conseguem sair da prisão que inconscientemente criaste nos teus olhos e não sabes porquê. Palavras e lágrimas, palavras e veias, palavras e frio.
Deitada vês tudo e não vês nada.
Tentas compreender o porquê das coisas que não foram criadas para ser explicadas. Coisas que se misturam com palavras. Com as mesmas palavras que tu sabes que são só tuas.
Respiras. Respiras palavras que entram em ti, palavras que não és tu a dizê-las, mas que são tão tuas, precisamente porque não sabes quem as diz nem porquê. Porque tu não sabes o que és nem porquê. Nunca soubeste, nunca te aproximaste sequer da verdadeira resposta.
Respiras.
Respiras e sentes o frio a correr pela ponta dos teus dedos. E continuas a não conseguir proteger-te a ti própria. E sentes que, por mais rodeada que estejas, de pessoas, de palavras, continuas tão só quanto te deixaste. Tão só e ao mesmo tempo tão acompanhada. Tão só.
Procuras um refúgio. Um sítio onde possas chorar sem ter que explicar por palavras o porquê de estares a chorar. Onde possas rir sem explicar por palavras o porquê de te estares a rir. Um sítio onde possas ser, existir.
Um sítio que, por não ser teu, passa a pertencer-te. Não sendo teu, mesmo não sendo teu.

4 comentários:

sónia disse...

Continuas a falar contigo mesma. E eu continuo a achar que falas comigo. Agora mais do que nunca porque te conheço e sei os teus olhos as tuas expressões a tua face. Agora mais do que nunca porque os dias são de crise. Aquela crise que se instala. Provisória-definitiva-quase-para-sempre. Embora a dúvida e a esperança de que algo nos possa salvar sejam a única hipótese de nos manter vivos.
Sabes? Vou contar-te um segredo. Já encontrei um refúgio. Tão dentro de mim que me ocupa todo o corpo. É bom ter este refúgio. Mas às vezes dói. Por isso solto as palavras para desocupar lugar. Conta-me tu um segredo também.
Bjs
Sónia Bártolo

Marina disse...

É bom ter-te de volta, com um ar renovado, com uma nova cara.
Escreve mais, para que eu possa ler mais...e voltar a conhecer-te. E a conhecer-me.
Beijinho.

Frederico Lopes disse...

há tanto tempo. wellcome back!!
vê se não paras tanto tempo outra vez. bjinhos

Mary Lamb disse...

Eu gostava de poder ler mais...
beijos