terça-feira, junho 20, 2006

Abres os olhos e gritas.
Esperneias.
Acertas em tudo à tua volta.
Esmurras. Partes. Estilhaças.
Sentes os vidros na pele, na carne. Sangue, quente, vermelho, jorra das tuas mãos.
Mas tu nem ligas. A tua prisão continua fechada.
Não desistes.
Cais de dor.
Essa dor que te aperta o peito. E dói-te tanto. Dói tanto que apetece acabar com a vida que te corre nas veias.
Dói tanto que queres mostrar que és mais forte, superior a isso, mas nem sequer consegues sussurrar.
Dói tanto que te perdes em ti.

Levantas-te.
O teu coração bate descompassadamente. Sente-lo na garganta.
Arranhas. Bates.
Magoas-te.
Até que não aguentas mais.
Lágrimas fervem na tua cara gélida.
Olhos ardem como se chamas os queimassem.
Asfixias.
Tens as mãos a segurar-te o peito como se isso te segurasse a vida.
Queres fugir.
Queres correr.
Queres eclipsar-te com a lua e ser queimada pelo sol.
Mas sempre pudeste fugir.
Sempre tiveste a oportunidade de correr.
E não o fizeste.

E é aí que surge de novo. Essa voz... essa voz que te agonia, que te dá vontade de rasgar e bater e chorar e cair e parar com tudo o que te faz mal e te corrói por dentro. E sentes que não aguentas mais, por mais que tentes, por mais que te esforces, não aguentas. E choras, choras como nunca, choras até os teus olhos secarem, choras até adormecer a dor.
Mas ela não dorme. Nunca adormece para não desaparecer.
Sabes que mais?
Tens um grande defeito.
És humana.
E odeias-te por isso.
E não vale a pena chorar.
O mal está feito.

4 comentários:

Marina disse...

Às vezes queríamos ser semi-deuses e controlar tudo. Controlar a dor, decidir quando vem a felicidade, quando chega o amor e parte o ódio, a solidão.
Queremos arranhar-nos, espancar-nos a nós e a quem nos apareça pela frente...até que um sorriso flui do rosto e então tudo parece mais doce.
"És humana. (...) o mal está feito"...eu continuo a dizer: O inferno é aqui. E se temos que viver no inferno, pelo menos, tentemos vivê-lo da melhor forma possível. Nós não precisamos de tirar a nossa própria vida...alguém o fará com muito gosto por nós.

Anónimo disse...

Continuo a achar estranhas estas palavras que parecem saídas da minha alma. Não acredito em coincidências, mas também não tenho uma explicação científica para esta confluência de sentimentos. Então, deixo a pairar no ar a razão se é que existe alguma.
Neste preciso momento, queria realmente eclipsar-me, os olhos ardem, não de chorar, mas de tentar não chorar, porque terei de esperar pela noite cerrada para o fazer sem ter que justificar a dor.
Também, hoje, o meu coração bateu descompassadamente, como há muito não batia. E eu sei porquê. E dói tanto, saber que a dor nunca poderá desaparecer. Que poderia ter sido tudo de outra forma, só que fiquei quieta, parada no tempo. Nunca tinha pensado que era o defeito de ser humana. Pensei que era o defeito de ser parva. Obrigada por me iluminares com as tuas palavras e de perceber que não sou única no mundo. Sei que não vale de nada chorar, embora saiba que logo vou chorar.
jinhos
sleepyalice

Xô Dona do Estabelecimento disse...

Foste tu que escreveste? ta mt bonito...parece um bocado do estilo das musicas dos toranja o inicio...
beijinhos* e bgd plo comentario!

Nandita disse...

"porque és humana"... belas palavras, sabes? condensam muito do que é o ser humano e a sua tendencia para a fuga, mesmo sabendo que nao consegue escapar...
a dor faz falta, mas, passe a expressao, dói tanto...
Beijo, hei-de voltar