Broken Skin

Sento-me no escuro e tento ver algo para além da escuridão...
Fecho os olhos, e tento ver alguém dentro de mim...será que mora cá alguém?...Ou estou sozinha em mim própria?
Penso no que nunca fiz, na pessoa que nunca fui.
Penso em tudo o que me tornei. Bom ou mau?...
Não sei.
Sei que nesta escuridão do meu quarto, na escuridão da minha mente, sinto que está lá alguém que não quer surgir.
Abro os olhos e vejo negro à minha volta...
Sinto uma respiração no meu pescoço, aquela sensação de estar a ser observada.
Quem és?

Ouço uma voz distante ao meu ouvido, que grita por mim, para ser aquilo que não sou, para sentir aquilo que não quero, para pensar no que não deve ser remexido.
Porque é que me atormentas?
Não quero voltar ao que fui, nem quero voltar ao que aconteceu.
Porque insistes em relembrar tudo o que já me fez sofrer?
Quem és tu para me dizer o que devo ser?
De quem é esta voz que me aparece nos momentos mais inesperados, incentivando-me a dar um passo para o precipicio que está à minha frente?
Fecho os olhos e tento ignorar-te e a tudo o que me dizes e que me fazes lembrar...
Encolho-me a um canto, enroscada em mim própria, criando uma defesa à minha volta para que não me possas atormentar, mas tu não desapareces...
Embalo-me a mim própria, cantando baixinho, tentando ignorar tudo o que me dizes..."Oh papão vai-te embora..." Esta música sempre me fez sorrir...mas sinto-te ainda mesmo ao meu lado.
Porque não desapareces e me deixas em paz?
Mais do que medo, sinto nojo de ti. Estás tão entranhado em mim como a unha se agarra à carne... E não consigo arrancar-te de mim.
Sinto um arrepio na espinha.
Tenho frio.
Está tanto frio...
Abro os olhos pela última vez...
E vejo a tua cara.
Algum dia tinha de te encarar frente a frente...
A ti, assombração da minha mente. És tudo o que me mata aos poucos cá dentro.
Ao contrário do que dizem, não revi o que vivi...
A tua imagem apagou-me a respiração...

Agora acabou o sofrimento.

Posso finalmente descansar...