quarta-feira, março 01, 2006

Passo a passo, caminho por uma estrada deserta...
Tudo à minha volta é cinza...
Olho para as minhas mãos e levo-as à cabeça. O que é feito de mim?
Procuro cá dentro a resposta, mas só encontro pedaços rasgados daquilo que já fui... Vejo uma e outra memória e riu-me de uma em especial... Já passou tanto tempo. Quando “voei” de um baloiço. Bati com a cara no chão e parti uns quantos dentes (tive sorte que eram de leite ainda). Com a mão na boca, dizia “Vou morrer! Vou morrer, não vou?”... Menina inocente... Não, não morreste, ou pelo menos há uma parte de ti que ainda te deixa respirar... Já não existes, mas estás sempre presente como algo que um dia já fui.
Sempre a caminhar, fecho os olhos, ergo a cabeça e sinto o calor do sol a bater-me na cara. Lembro-me daquele sonho que sempre tive, e ainda hoje tenho, em que estou num quarto completamente às escuras e a única coisa que vejo é uma janela aberta, envolta em fumo... Para lá dela, a escuridão... E então vou na direcção da janela, subo para o parapeito e atiro-me no vazio, acordando logo a seguir com um salto. Quantas vezes já caí dessa janela? E quantas vezes volto para ela? Quantas vezes quero fugir dela, mas no entanto, quando dou por mim já lá estou outra vez? E quantas vezes acordo sobressaltada e olho para o lado e penso que se calhar o melhor mesmo era ter continuado a cair no vazio?... Não sei. Não sei mesmo.
Abro os olhos ao céu e sinto que o meu lugar não é aqui. Olho em frente e vejo que a estrada continua, sem ter nada ao lado... Apenas um grande precipício que se estende até perder de vista. Dirijo-me para a beira da estrada e sento-me a olhar para lá para baixo... É uma saída tão fácil, mas ao mesmo tempo tão cobarde. Mas tão tentadora... Olho para trás e tento ver o fim da estrada. Não consigo vê-lo.
Levanto-me... Que faço eu? Vou em frente, para o nada? Ou volto para a estrada e vejo o que acontece? Se calhar o fim dos dois é o mesmo... Será? Será que lá em baixo não há algo que me leve mais além?
Um último olhar em volta antes de decidir... Sinto as lágrimas a correr pela cara, sem sequer fazer um esforço para as reter ou para que elas continuem a sair... Simplesmente correm e também não quero que parem. Um último suspiro...
Um passo... Dou um simples passo...


Escrito a 9 de Junho de 2005, ou qualquer coisa do género... Vou colocando aqui textos meus já conhecidos por alguns... Até voltar ao meu andamento na escrita.

1 comentário:

Anónimo disse...

Step by step adiando a morte... É mais fácil respirar do que viver. Cheguei a esta conclusão, talvez tarde demais. Talvez, cedo demais.
Não sei se interpretei o teu texto ou se nele me revi. Sei que o mundo me dói, mas também sei que essa dor ajudar-me-á a partir, mesmo que seja step by step.
Bjinhos
sleepyalice